Quem sou eu?

Danka Maia é Escritora, Professora, mora no Rio de Janeiro e tem mais de vinte e cinco obras. Adora ler, e entende a escrita como a forma que o Destino lhe deu para se expressar. Ama sua família, amigos e animais. “Quando quero fugir escrevo, quando quero ser encontrada oro”.

UM COPO DE ÁGUA por Danka Maia






Tissy e Cris tinham aquele vínculo materno que transcedem todo e qualquer entendimento.Eram amigas,companheiras, confidentes e acima de tudo Mãe e Filha na essência.Embora Tissy fosse uma mocinha de dez anos de idade e a mãe o triplo,a idade entre as duas era só um mero detalhe.Se compreendiam no olhar, eram do tipo que uma começava a frase e a outra terminava e em seguida gargalhadas gostosas perpetuavam aquele mágico instante na caminhada das duas.
Cris era mãe solteira, logo o correto a ser afirmado é que desempenhava a função de "Pãe",pois era pai e mãe de Tissy. Professora na rede pública, três matrículas, jornada de dez horas diárias em escolas distintas para que a filha tivesse o melhor colégio,as melhores roupas, resumidamente a melhor infraestrutura que ela como mãe zelosa e determinada pudesse oferecer com orgulho.
Tissy,como toda menina de sua idade, tinha um mundo cor de rosa onde ela e a mãe ocupavam o lugar de Rainha e Princesa.Naquele mundinho tudo era simplesmente perfeito,nenhuma palavra caberia ali além dessa  maravilha de ser perfeito.
Quando iam dormir o ritual era sagrado. A mãe colocava a canção na voz de Maria Betânia, as duas se olhavam por uma eternidade, a filha passava mão sobre os cabelos encaracolados da mãe e a mesma acarinhava o rosto da pequena como se ali se perdesse sem jamais querer resgatar-se. E ao findar da canção,Cris colocava as longas madeixas sobre o corpo de Tissy como quem buscava o colo da menina e na última nota da melodia a garotinha dizia a  frase de sempre:
_Um copo de água mamãe,por favor!
Cris sorria,beijando-lhe a fronte e ia até a cozinha deixando o copo d'água ao lado da cabeceira e ali além dessa perfeição.





Eu sei e você sabe
Já que a vida quis assim,
Que nada neste mundo
Levará você de mim...
Eu sei e você sabe
Que a distância não existe,
Que todo grande amor
Só é bem grande se for triste,
Por isso meu amor
Não tenha medo de sofrer,
Pois todos os caminhos
Me encaminham pra você...
Assim como o oceano
Só é belo com o luar;
Assim como a canção
Só tem razão se se cantar;
Assim como uma nuvem 
Só acontece se chover;
Assim como o poeta
Só é grande se sofrer;
Assim como viver
Sem ter amor, não é viver;
Não há você sem mim,
E eu não existo sem você!




Mas veio o Destino,que nem sempre é belo ou explicável aos nossos meros olhos humanos.Foi num dia na volta da escola, quando iam atravessar o cruzamento de uma rua ao lado do shopping Plaza em Niterói que se encontravam no meio da passagem com sinal fechado um motorista cruel avançou o sinal e no reflexo quando Cris soltou a mão de Tissy viu que ele o atingiria em cheio,com aqueles rompantes que só quem é mãe pode ou pelo menos consegue elucidar a empurrou para meio fio e fez de si o alvo do assassino de quadro rodas.
E o mundo em si continuou,no entanto, o de mãe e filha rompeu-se naquele exato segundo.
Dias depois do lamentável episódio,numa reunião familiar Tissy passaria a morar com a sua avó materna, a Vó Beta.
Beta amava a netinha,estava pronta para tentar suprir a maior falta que um ser humano pode ter,perder o ser que dividiu sua alma,seu corpo e sua vida para gerar o outro,para viver em função dele,ou como também chamamos:Mãe.
No fundo a avó compreendia que não conseguiria jamais sanar aquela falta porque o elo entre elas ia além de qualquer tentativa de amor por mais puro que fosse.
No quinto dia após a morte da mãe, a menina não podia parar de chorar, abafava a dor com o travesseiro sobre a boca. Beta surgia,vinha conversar, acarinhar, acolher mas... era sempre assim que terminava suas incontáveis tentativas, em três pontos de reticências.
Naquela noite, Tissy indagava bem baixinho em sua nova cama:
_Por que mamãe? Por quê me deixou aqui sozinha? Aqui tão sem você?
E o vazio que interruptamente vinha desde a partida de Cris naquela noite foi rompido.Tissy soluçava com o travesseiro sobre o rosto com sentiu o peso daqueles cabelos longos e cacheados sobre a altura da sua cintura.No rompante entre o medo e a saudade indagou entre sussurros:
_Mamãe?
Apenas uma voz chorosa foi ouvida:
_Filha,escute,não quero que chore mais por mim,entendeu?
_Mas você me deixou só.- respondeu a garotinha com teimosas lágrimas escorrendo pelos olhos.
_Não foi de propósito,não foi o combinado. Porém mamãe precisa que entenda,eu jamais suportaria se aquele carro tivesse levado você em meu lugar.O natural da vida é que ela siga seu curso, e neste curso os filhos enterram seus pais e não os pais seus filhos.Pode compreender isso minha princesa?
 Depois de um momento do mais absoluto silêncio, Tissy respondeu a mãe:
_Está bem mamãe,não vou chorar mais.Prometo.
_Acredite,eu sempre vou estar com você.
_E como vou saber se é verdade?
_Confie na mãe,saberá.
_Mãe...
_Sim amor.
_ O céu é bonito?
_Sim,é lindo.Mas não é perfeito.
_Por quê?_ Indagou e foi se virando na tentativa mais confiante de vê-la.Entretanto,sua voz segredou antes de desaparecer:
_Porque você não está nele minha flor.

No sétimo dia do falecimento, após uma reunião familiar para dar mais suporte a menina, Tissy foi dormir.Contudo, uma velha amiga veio visita-la, a sede. Pensou consigo:
_E agora? Quem lhe traria o copo de água?- Uma lágrima brotou,porém lembrando da promessa que fizera a mãe a conteve forte e foi nesse segundo que viu uma silhueta sair da cozinha e sair pela portas dos fundos. Em seus adágios pensou em todos da casa,só que todos jaziam na sala,conversando,rememorando e discutindo como elaborar o futuro da garota da melhor maneira que podiam.
No ímpeto Tissy levantou-se e foi de passo em passo,vagarosamente até chegar a cozinha.Não havia ninguém ali, frustrada quando ia virar as costas e regressar ao quarto seus olhos passearam pela pia da cozinha e foi que um sorriso lindo nascera outra vez em seu rosto.
O mesmo copo com água até a metade com um pires rosa o respaldando como sempre fora pairava ali como se estivesse somente aguardando o seu olhar e a sua sede e lhe dar a garantia de que jamais estaria sozinha por toda sua vida.

Pois é leitores,o amor verdadeiro excede qualquer entendimento.
Ultrapassa qualquer fronteira.
Perpetua em qualquer coração que esteja disposto a cuidar dele de modo incessante, devotado e principalmente, com intensidade.


EU NÃO EXISTO SEM VOCÊ-MARIA BETÂNIA









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3 comentários:

  1. Lindo. Simples e verdadeiro. Eu poderia dizer nas palavras que não são minhas: "existem mais
    coisas entre o céu e a terra do que possa imaginar a nossa vã filosofia", mas prefiro as minhas palavras: "Para sempre e eternamente"!

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  2. Obrigada Nell também me emocionei muito enquanto concebia essa narrativa.Beijocas!

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  3. O elo era tão forte que obteve permissão divina . Bacana esse conto.
    Beijos

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